Treino de desencarceramento: treine como fazer

2020-02-28 14:09

Extrication training


O que é que significa? Quando uma equipa desportista treina, será que deixa o equipamento de proteção nos balneários? Será que não respeitam as regras, só porque não têm árbitros a assistir aos treinos? Não, eles treinam como se estivessem a disputar um jogo real. Por que é que devemos ignorar passos fundamentais quando treinamos os desencarceramentos? 

O simulacro

O cenário habitual é termos uma viatura doada por uma sucata ou, se tivermos sorte, uma viatura que foi rebocada até ao nosso quartel. A maioria das vezes, as baterias destas viaturas já foram retiradas há muito tempo, assim como os fluídos e carga perigosos. Já vi muitas equipas a aplicarem excelentes técnicas durante um treino de desencarceramento, reagindo ao cenário de resgate fictício criado para melhorar as suas capacidades. Contudo, muitas vezes, não há avaliação do local de resgate nem existem verificações de segurança e redução dos fatores de risco. Avançamos e passarmos diretamente ao trabalho, porque achamos que tudo está "em segurança". 

Falámos anteriormente sobre praticarmos até não cometermos erros. Como podemos fazê-lo se não praticarmos cada passo? Se as equipas não seguirem sempre os procedimentos adequados, podem ocorrer erros e ferimentos quando importar. 

Vejam as competições de desencarceramento; cada passo tem de ser verificado para se receber uma boa pontuação. Todos estes passos são planeados previamente. As Equipas de Segurança do desporto automóvel atribuem tarefas a cada membro da equipa e seguem sempre procedimentos normalizados, de forma a garantirem a segurança e o sucesso. As tarefas da equipa são cruciais. Elas devem ser debatidas a caminho da pista. Podem ser atribuídas nessa altura ou atribuídas previamente sentando-se no lugar no aparelho, como uma orientação padrão. 

O que temos? 

Independentemente do que planeamos, esta avaliação é da responsabilidade da primeira equipa a chegar ao local. 

Primeiro; examinar todo o local:  O que vemos ao chegar? Quantas viaturas estão envolvidas? Perigos externos; existem linhas elétricas, condutas de gás natural ou focos de incêndio? As equipas podem aproximar-se com segurança? Que tipo de veículos estão envolvidos: veículos de passageiros, de mercadorias? No caso destes últimos, o que transportam? Todos estes aspetos devem ser avaliados e comunicados à equipa presente e às equipas que chegarem ao local posteriormente. Assim que verificarmos que nos podemos aproximar com segurança, começa a segunda fase.

Os veículos identificados

Quais são as preocupações relativas à estabilidade? Será que o veículo está em risco de cair de um penhasco ou encontra-se no meio do trânsito? Está suspenso em condições precárias? Será que dois blocos simples à frente e atrás da roda garantem a segurança? É preciso fixar melhor o veículo antes das equipas começarem a trabalhar? Onde é que se encontra o veículo? Encontra-se numa via férrea? Encontra-se a uma distância segura das faixas de rodagem ativas para os socorristas poderem trabalhar? 

Stabilization

Os motores estão a trabalhar ou os fluídos libertados podem causar perigo? Pratique a retirada e a colocação em segurança das chaves ou dispositivos de ignição eletrónicos (chaves com telecomando). Algumas destas necessitam de estar afastadas até 6,5 metros do veículo. Antes de retirar as chaves, temos de instalar a cobertura de proteção do airbag no volante para ser possível retirar as chaves em segurança e criar um ambiente seguro para o médico trabalhar.

Agora, necessitamos de encontrar e desligar a bateria. Enquanto realizamos esta operação, outra pessoa deve avaliar as vítimas. Toda a equipa, especialmente quem estiver no comando, deve receber informações sobre a conclusão destas tarefas importantes. Muitas destas tarefas são desempenhadas em simultâneo. Praticá-las, facilita a sua execução. Contudo, temos de as praticar sempre, para que sejam realizadas naturalmente e não sejam esquecidas. 

Posicionamento da ferramenta

O posicionamento da ferramenta e do corpo do socorrista devem ser acompanhados de perto durante a utilização de ferramentas hidráulicas em cenários de treino. É fácil tentar saltar etapas durante os treinos, o que não seria possível num cenário real. Evite praticar técnicas que, à partida, já sabe que não conseguirá aplicar quando a vítima estiver presente. Lembre-se de elaborar e praticar igualmente um plano B. Não se esqueça que o estado clínico da vítima pode sofrer alterações. Deve ter e ser capaz de executar planos de desencarceramento rápidos e controlados. 

Condições ambientais durante o treino de desencarceramento

Também se devem considerar as condições ambientais durante os treinos de desencarceramento. Que tipo de condições meteorológicas poderá encontrar? Em algumas partes do globo, como no estado do qual sou natural, o Texas, é possível observarmos três estações do ano na mesma semana. Tempo frio, chuva torrencial e temperaturas que podem atingir os 29 ºC, tudo no espaço de cinco dias. Temos tudo o que necessitamos no nosso equipamento para enfrentarmos estas condições? Pratique as operações sob calor intenso, definindo operações de hidratação e rotação de equipas. Deve fazer o mesmo para os cenários de tempo frio e chuva. A hipotermia pode surgir num ápice. A proteção das vítimas em condições atmosféricas adversas é igualmente fundamental. O treino sazonal é muito importante. Colocar as equipas a treinar com mau tempo só nos torna melhores quando tivermos de trabalhar em cenários reais. 

Extrication training in rain

Qual é a sua capacidade de iluminação do local? A iluminação dos equipamentos só é eficaz numa pequena área em redor do veículo. E se o veículo acidentado estiver muito afastado da estrada ou o tráfego não nos permitir estacionar perto? Transporta dispositivos de iluminação portáteis adequados? As suas ferramentas hidráulicas devem estar equipadas com luzes de trabalho? As respetivas baterias estão carregadas? Os simulacros noturnos podem dar uma nova visão sobre a capacidade de resposta da sua equipa . 

Por último, mas não menos importante, vamos falar de EPI

Se me dessem uma tábua por cada pessoa que vi a usar EPI (equipamento de proteção individual) incompleto, porque era "apenas a fingir", poderia construir uma mansão. Se utilizar apenas um casaco ou luvas e um capacete, está mesmo a pedir que as coisas corram mal. Ser complacente é a principal causa de ferimentos. Os EPIs são, muitas das vezes, limitativos, quentes e podem ser desconfortáveis. Porque não praticar em condições que não são reais? O objetivo do treino é o de aperfeiçoar as nossas capacidades. Parte dessas capacidades serve para superar obstáculos e aprender como trabalhar com aquilo que tem. Por isso, usar o EPI completo durante o treino de desencarceramento deve ser a única opção possível. Isto não deve ser feito apenas por razões de segurança, mas também para fins de aprendizagem. 

A conclusão final é: treine como deve fazer. Não aceite ou procure atalhos que o possam deixar desprevenido durante cenários reais de resgate. 


Como sempre, agradeço os seus comentários e fico a aguardar as discussões sobre todos os tópicos do blog.

Jason Bell
Gestor de Marketing do Produto
Holmatro Inc

 

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